2013 e 2015: diferenças e semelhanças

Hoje quero trazer uma reflexão sobre essa charge/tirinha que publiquei em 2015, após aquela gigante manifestação de 15/03/2015 nas capitais brasileiras. Essa é daquelas charges “morta-viva”, que renascem através dos tempos, atualizando contextos.
 
Primeiro de tudo, é preciso situar tempo e espaço. Muita gente confunde 2015 com 2013; outros pensam que foi tudo a mesma porcaria. Olha, até foi tudo porcaria, mas não foi a mesma porcaria. As pautas difusas de 2013 (passagens de ônibus, hospitais padrão-Fifa, roubalheira dos estádios da Copa e a falta de participação política nas decisões do governo) foram levadas para as eleições do ano seguinte.
 
A partir do resultado eleitoral de 2014, aí sim, formou-se esse novo público, que tinha uma agenda e objetivos claros: impeachment da Dilma e prisão do Lula. Foi ali que começaram a enxovalhar a camisa da seleção brasileira e a bandeira nacional. Sendo assim, pode-se argumentar que 2015 foi um dos desdobramentos de 2013.
 
Em termos ideológicos, é muito difícil encaixotar 2013. Tecnicamente nasceu à esquerda, mas também abrigou parte da direita. Era uma maçaroca tão diversa e contraditória, que até hoje os cientistas políticos não sabem definir. Já em 2015 as coisas ficam bastante claras. Ali as ruas foram tomadas pela direita e pela extrema-direita, que finalmente se uniram em prol de suas causas. Foi nessa onda “patriótica” que Bolsonaro surfou para vencer as eleições em 2018.
 
Analisando em retrospecto, 2013 foi um erro? Claro que sim, mas é fácil chegar a essa conclusão já tendo o domínio de todos os fatos ocorridos desde então. Dez anos atrás, quem poderia prever Jair Bolsonaro presidente? Hoje, passado o pesadelo bolsonarista, vale lembrar do alerta que Millôr fez no fim da ditadura, sobre o espectro do humor a favor. Falando nisso, lá no armazém de secos e molhados já tem gente falando que não podemos criticar o novo governo “senão o Bolsonaro volta”.
 
Mas falando sobre a charge em si, nada mais brasileiro do que exigir a mudança, desde que essa mudança não nos inclua – e aqui cabe pontuar que esse ideário transcende a política e as ideologias. Faz parte da mentalidade brasileira essa vergonha em reconhecer erros e a pressa em apontar dedos e transferir responsabilidades.