A vingança é doce, diz o ditado. Mas nem a sabedoria popular estava preparada para a vingança de Dorival Junior contra o Flamengo. Mais açucarada do que A Fantástica Fábrica de Chocolate de Willy Wonka, ela veio junto de algumas lições básicas sobre futebol.
De todas as injustiças que Dorival enfrentou em sua carreira (e olha que foram algumas – vide o episódio com Neymar em 2010, que só Renê Simões viu o óbvio ululante), nenhuma delas se compara à que ele viveu no Flamengo em 2022.
Para trazer mais contexto, vale destacar este trecho de sua coletiva pós-título pelo Tricolor: “Falaram que [meu trabalho] era um arroz/feijão e que qualquer um fazia igual, pela capacidade da equipe do Flamengo. Um mês depois, aquela mesma equipe não alcançava os resultados na disputa do Mundial de Clubes.”
Bom, não é difícil entender o que houve: Dorival não apenas arrumou a bagunça naquele elenco em crise, como soube administrar como poucos o ninho de cobras que se instalou a concentração do Ninho do Urubu. E os dirigentes rubro-negros, arrogantes e equivocados, trataram Dorival como um técnico-tampão, que apenas esquentava o banco até que encontrassem um “técnico de grife” disponível no mercado.
O que muita gente parece não entender é que, muitas vezes, o arroz/feijão é exatamente a receita que um time precisa. Imune à essa “Síndrome de Guardiola”, que parece acometer tantos técnicos hoje, Dorival chegou ao São Paulo e logo entendeu que a solução estava em fazer o simples.
Sem querer reinventar a roda, ele definiu um esquema tático, mexeu as peças de acordo com a disponibilidade e/ou necessidade, enfrentou desfalques, contou com alguns reforços e explorou as qualidades individuais de cada jogador. Foi abraçado não só pelos jogadores, mas também pela torcida.
Na eterna e infrutífera guerra dos “técnicos gringos modernos” contra os “técnicos brasileiros ultrapassados”, Dorival correu por fora e triunfou. Dorival não é um arroz com feijão qualquer. É o nosso arroz com feijão. A nossa guarnição, muito bem temperada, que é mais uma vez premiada pelos mais conceituados chefs do futebol!
Agora chegou a hora da sobremesa. É claro que, sendo Dorival o gentleman que é, jamais saborearia sua dulcíssima vingança em público. Então, com as devidas escusas, podemos celebrar este momento por ele – e, por que não dizer, junto com ele. Obrigado, Dorival! Seu lugar é aqui, na sala de troféus do São Paulo!
Anotações Tricolores
Esta caricatura e este texto foram originalmente publicados na edição número 874 do diário Anotações Tricolores, de Alexandre Giesbrecht. Veja abaixo a página diagramada.
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