
São Paulo 0 x 1 LDU…
O que dizer sobre mais uma desclassificação? Perdemos muitos gols de novo? Luciano está em fim de carreira? Bobadilla foi um tremendo de um bobadilho no lance do gol da LDU? O time estava muito desfalcado? Ou foi mal escalado? Deixemos de lado, de uma vez por todas, as infrutíferas discussões sobre esquemas táticos e os scouts dos numerólogos da bola. A escassez de futebol no campo encontra a sua melhor explicação fora dele, com os excessos da cartolagem.
Sim, cartolagem. Achou que esse termo estaria morto e enterrado junto com os tempos do amadorismo do futebol? Pois o amadorismo está ON no São Paulo. Em plena era das redes sociais e da Inteligência Artificial, o algoritmo da política tricolor segue sendo o mesmo dos tempos dos telegramas e das máquinas de escrever, com seus conselheiros vitalícios, com sua ausência de oposição, com seus apadrinhamentos e violações de estatuto.
Quando o time sofre em campo, não são jogadores fracos que estamos vendo. Aquilo é o espelho que reflete todo um conjunto de ideias atrasadas, de uma mentalidade da manutenção de poder, própria do patrimonialismo brasileiro. Mesmo que quiséssemos, não poderíamos derrubar o presidente, pois a política no São Paulo é tão fechada que nem precisa de uma PEC da Blindagem.
Rogério Ceni já alertava que o clube tinha parado no tempo lá no longínquo ano de 2013, e o que vemos hoje são exatamente os mesmos problemas daquela época. Para a surpresa de absolutamente ninguém, o hoje presidente era diretor de marketing e fazia parte desse mesmo grupo político, que via Juvenal Juvêncio virar as costas para sua própria história construída no clube e entrar para os anais como o Eurico Miranda são-paulino.
Júlio Casares chegará ao seu último ano de mandato deixando o São Paulo da mesma forma que começou: derrotado e endividado, mas garganteando conquistas e avanços. O que fará depois de deixar o cargo (se é que vai mesmo largar o osso)? Difícil dizer, mas fácil especular. Meu palpite é que ele pode tentar uma candidatura a deputado federal. Afinal, é para a política que as pessoas vão quando se mostram incapazes de produzir valor e/ou entregar resultados, mas mostram grande talento para a construção de narrativas fantasiosas.
Aproveitando o embalo, já faço aqui uma sugestão de número para a candidatura: 1.000.000.000. Esperamos que as exóticas regras eleitorais brasileiras permitam o uso do número, entendendo a genial jogada de marketing. Quem já prometeu engajamento total na campanha é a torcida são-paulina. Só assim poderá tirá-lo do Morumbi e mandá-lo para Brasília. Lá no Congresso Nacional a falta de transparência é tanta que, temos certeza, Casares se sentirá em casa.
- texto originalmente publicado na edição 1468 do Anotações Tricolores